Cai o pano da visita do Procurador-Geral de Angola à Cabo Verde. As duas Procuradorias-Gerais querem reforçar cooperação com “coisas concretas”

pgrsCaiu, hoje, o pano da visita do Procurador-Geral da República de Angola à Cabo Verde, tendo as duas procuradorias gerais manifestado a vontade de reforçar a cooperação, com “coisas concretas” no combate aos crimes económicos e financeiros e formação, num acordo bilateral a ser assinado em dezembro.

A intenção foi manifestada pelo Procurador-Geral da República (PGR) de Cabo Verde, Dr. Luís Landim, e pelo homólogo angolano, Dr. Hélder Pitta Gróz, numa entrevista exclusiva ao Gabinete de Comunicação e Imagem da Procuradoria-Geral da República e a agência lusa.

Segundo o Procurador-Geral da República de Angola, o país já tem “excelentes relações” com Cabo Verde, com participação conjunta em várias atividades internacionais e com uma “cooperação bastante informal”, mas decidiram celebrar um protocolo para definir áreas para trabalharem juntos.

Entre essas áreas, apontou o combate aos crimes económicos e financeiros, como corrupção e lavagem de capitais, mas também os interesses comuns da população, a formação ou os direitos humanos.

“Vamos reforçar a cooperação e depois fazer coisas concretas, em vez de ser aquela cooperação pontual, mas termos um programa de atividades concreto e que possa ser exequível, tanto aqui em Cabo Verde, como em Angola”, projetou.

O Procurador-Geral da República de Cabo Verde lembrou que há muito tempo que os dois países têm convenções bilaterais, mas agora querem pormenorizar e serem mais práticos.

“Daí que essa visita foi no tempo certo e as vantagens serão evidentes”, perspetivou Dr. Luís Landim, para quem os dois países querem também apostar mais na cooperação Sul-Sul.

“Porque temos capacidades, temos meios, mas às vezes não são tão bem exploradas para darem os frutos que nós desejamos, e acreditamos que é um dos passos que nos vai permitir atingir este ponto”, continuou o PGR de Cabo Verde, apontando ainda outras soluções que o país pode “aproveitar” em Angola, nomeadamente o Centro de Formação Judiciária, por onde já passaram muitos magistrados do arquipélago.

Dr. Luís Landim indicou que se vai “reforçar e muito a formação, sobretudo a capacitação dos magistrados e oficiais de justiça”, dando conta que Cabo Verde já tem alguns protocolos com outros países lusófonos, como Moçambique, São Tomé e Príncipe, Portugal e Brasil.

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Para o PGR angolano, os dois países podem dar um contributo para melhorar o setor da Justiça nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mas chamou a atenção para a questão da legislação, que embora tenha um caráter aberto, não deve descurar as realidades desses países.

“Por vezes vamos para modelos que não se coadunam muito com a nossa realidade, com os nossos países. Então, temos sempre de ter em conta a realidade dos nossos países, a forma de fazer e de estar, mas não esquecendo que há outro tipo de ação que tenha outro nível de desenvolvimento, mas termos sempre em conta a nossa realidade. Penso que para uma Justiça eficaz nos nossos países devemos partir deste princípio”, sugeriu.

Outra questão que segundo Dr. Hélder Pitta Gróz vai obrigar a uma “reflexão” em Angola é o facto de ter constatado que em Cabo Verde o presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) não é presidente do Conselho Superior de Magistratura Judicial (CSMJ), contrariamente a Angola.

“Serviu para nós vermos esse poder de funcionamento, podermos questionar, das vantagens e desvantagens, e obrigar-nos a uma reflexão sobre esse modelo”, afirmou a mesma fonte, que classificou de “bastante positiva” a visita a Cabo Verde.

A delegação angolana manteve encontros de cortesia com os titulares dos órgãos da administração da Justiça, como o STJ, Ministério de Justiça e CSMJ, participou na sessão solene de comemoração dos 152 anos da criação do Corpo da Polícia de Cabo Verde, atual Polícia Nacional, visitou o ex-campo de concentração do Tarrafal de Santiago, algumas comarcas, bem como Campus de Justiça.